segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Pássaro azul.

Ele viveu muito aqui na terra e até alguns amores cultivou
Mas se apaixonou pela imensidão dos céus em todo o seu esplendor
fosse o impossível de tocá-lo, fosse seu tamanho estarrecedor
algo de novo naquele novo universo o cativou.

Da janela de sua cela o velho pássaro gastava horas observando
sonhando em beijar tão misteriosa entidade que ele tanto amou
O pássaro só podia sonhar, sabia que nunca se libertaria de suas correntes
pousou seu olhar no seu amante e pousou seu corpo no olhar

Não julgue o velho passáro por apenas desejar
ele um dia tentou se atirar naquela imensidão azul, isso o fez se apaixonar
o medo de sua asa quebrar, o levou a recuar

o pássaro se retirou para o interior da floresta até hoje ele encontra lá
com duas asas quebradas e um terrível medo de voa
vive observando de minha janela seu amante constantemente a mudar.

O velho pássaro está preso no meu peito que insiste em não o libertar
quando ele vê o céu, tão formoso, suas asas se agitam. ele tenta escapar.
nesses dias sinto algo de terrível me afetar
me ponho a chorar para lamentar o desavir destes dois amantes

às vezes o velho pássaro se cansa de observar e nas profundidades se recolhe
ele chega ao meu topo, mexe no meu céu, faz com que eu também pare de observar
eu só faço pedir perdão e implorar um pouco de compreensão,que ele volte a observar

temos sido simbióticos por tempo suficiente
o pássaro entende que meu peito não o deixará
ele entende que já não tenho mais o acordo de mim

nos resta esperar para que não passemos a nos parasitar
para que ainda tenhamos esperanças de voar
enquanto houver céu. enquanto houver janela.
enquanto houver pássaro em mim
há também a chance de um salto em queda livre
de ponta a cabeça para o impossível que veio pra ficar.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Eu não sei rezar.

Pai nosso que estais no céu...o senhor é convosco... rogai por nós pecadores...

    Perdoe, eu já não sei mais rezar. Já não me lembro a ordem básica de uma reza básica que foi inserida paulatinamente nos meus costumes desde que nasci. Lembro que quando era muito criança, rezava todos os dias, ia a todas as missas, até brincava de catecismo. No entanto, nunca foi pela vontade certa. Ia a missa pelos amigos e pelo latim. Lia o catecismo pela história. Tudo me gerou o minimo de fé para me fazer seguir. Muita coisa mudou desde então.

    Seria esse o meu erro? Sempre me recusei a acreditar no Deus vingativo e cruel do antigo testamento. Deus é amor, compaixão, aceitação. Deus cura. Deus perdoa.Nada disso tem me parecido verossímil. Tudo é vontade de Deus. Ele escolhe os melhores pra ele. Se ele quiser, ele cura. Porque não quereria o fazer? Que vontade cruel seria esta? Que ser cruel seria este?

  Para que reaprender a rezar? Ele reza o tempo todo. Ele pede o tempo todo. Ele buscou no mahabahata, na torá, no zohar, no kardecismo porque o cristianismo não adiantava. Ele jurou. Ele se rebelou. Nada adiantou. Porque deveria eu então aprender a rezar?
                                                     ****
   Junho de 2013. Ensino Médio. Aula de Inglês. Foi quando me empenhei a desaprender. Gastei toda minha energia, toda a fé que já estava fria para pedir com todo fervor ao magnificente Senhor por uma vida. Foi a única vez na minha vida que acreditei profundamente. Que precisei urgentemente. Fui cruelmente destruída, derrubada. Senti como se um raio de Zeus tivesse me atingido. Não entendi porque de tudo aquilo. Não entendi porque ninguém se questionava. O conforto que todos receberam não chegou em mim. 
                                                   *****
    Me questiono se tudo isso é algum tipo de piada ou castigo divino para mim, grande herege que não sabe o pai nosso. Tudo que eu faço é pedir. Pedir do meu jeito, de leve, discreto mas queimando por dentro. Diz-se que não se pode fugir da moira, já está traçado. Não dá pra acreditar em tal afirmação pagã. Diz-se que Ele escolhe os melhores para perto. Não dá para acreditar em tal afirmação cristã. Não consigo crer em nada. 

    Ainda sim, peço sua ajuda. Peço por estar perdida. Por querer sumir. Sumir daqui, sumir com tudo. Por desejar dormir e só acordar ao lado dele, ao findar de tudo. Peço por não saber como vai ser, por não achar que suportarei apesar de parecer.  Peço por não ter ninguém pra confiar nem nada pra me segurar. Pessoa pode ser meu conselheiro pessoal. Plath pode me expurgar as vontades  de abandonar. Wyatt vai canalizar minha energia. Quero uma resposta. 
  
   Eu já não sei mais nada. Já não sou mais nada. Já não faço nada. Portanto, perdoe eu não sei rezar mas exponho o meu coração ao poder supremo que governa este universo. Mostre o amor que todos dizem ter. Salve quem te ama veementemente. Desfaça a crueldade que se faz tão fortemente em sua face neste momento. Nos salve do abismo que vejo a nossa frente.

Pai nosso que estais do céu... seja feita vossa vontade... agora e na hora de nossa morte.
AMÉM.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Saudosismo extremo


Tenho uma mania muito saudosista, sei que tenho que mudar. Adoro coisas antigas, com história, se puder conhecer o dono da história , aí então fico radiante. Pode ser a coisa mais chata do mundo, se me contarem uma historia por trás daquilo se torna a minha favorita.
 Um dia desses estava escutando Tom Jobim com meu pai, e ele contava as histórias dos meus avós relacionadas a cada música, construía as imagens na minha cabeça e em pouca tempo todas as musicas enchiam meu ipod, minha casa, minha vida e todas as memórias voltavam.
Descobri então que gosto de coisas com histórias porque escutar seus finais felizes me fazem aprender; seus personagens se conectam comigo e me sinto muito próxima de quem amo e tive que perder. Memórias, mesmo as vezes ferindo, sei que nunca vou perder, vou ter que me adaptar a este saudosismo extremo e vai que um dia a historia por trás da musica seja sobre mim.

A música que há em mim

A música que há em mim, depende do tempo, depende do vento, depende do sentimento.
Quando sento para escrever, nem sempre é sobre você, depende do que eu vou fazer, quase nunca sei o que dizer. Surgir uma frase na minha cabeça e criar todo um parágrafo baseado nela, nem sempre garante a beleza, que no fim nunca acho justa para uma pessoa ver.
A música que há em mim depende da tristeza, mesmo que pareça clichê, juro, não depende de mim. Você pode até dizer que hoje pessoas procuram alegria e que falando assim pareço mais um plágio de camelô do Tom Jobim. Mas quem vai querer falar sobre a alegria de uma promoção ou de se casar?
 Para mim inspiração mesmo é quando você me deixou simplesmente te esperando lá, ou quando vi meu melhor amigo chorar.
A música que há em mim, quase sempre é em Dó menor e juro que já tentei mudar mas não encontro beleza em música tocada em Lá. Ritmo de Bossa Nova ou Samba ? eu prefiro mesmo é dedilhar, Já pensou em Yesterday em um ritmo para dançar?
A música que há em mim, não é feita para você gostar, é uma inspiração que vem e se torna uma forma de desabafar. Isso me ajuda tanto, afinal para que me torturar. Pego meu violão desafinado e começo a tocar.Não quero arranjos completos, rimas perfeitas ou me musicalizar.
A música que há em mim é pura, crua, bruta, não precisa de acordes com baixo e sétima, não preciso de diminuta,
 amor, sentimento e dedicação já é suficiente.
Alma purificada, melodia meio arranjada e violão chorando o que eu não pude chorar.

Letras sonhadas

Quero viver nas letras de MPB
Quero os amores de Tom, os términos de Clarice e as declarações de Los Hermanos.
Assim nunca sofreria por uns e outros.
Queria ter a tranquilidade de Caetano, a Boemia de Chico e a felicidade de Jeneci.
Assim não choraria pelo peso que meus ombros não podem aguentar, saberia que tudo isso logo iria passar.
Queria a melancolia de Renato, a amizade de Milton e a paixão de Nando.
Assim teria intensidade ao viver, teria alguém para desabafar debaixo de sete chaves e enfrentaria os monstros da minha própria criação.
 Queria a casa de Toquinho, o viver de Gilberto e a consciência de Elis.
 Assim poderia morar na rua dos bobos, ensinar a fazer renda e perceber que apesar de ter feito tudo errado ainda sou a mesma.
Acabaria com este Tédio sem remédio, viraria uma rebelde sem religião, descobriria que os ventos ás vezes erram a direção e mesmo sabendo que sou tão jovem minha consciência adormeceria e acordaria no mesmo lugar, no mesmo quintal e então saberia que a felicidade é só questão de ser.

O castelo de areia

Quando pequena ia à praia com frequência, diversão era garantida ali.
Passatempo favorito? Castelos de areia.
A brincadeira mais infantil possível. Chegava corria para a beira da água, pegava meu baldinho e construía castelos de diferentes modelos. Ficava tão orgulhosa da minha construção que corria e chamava meu pai para olhar mas antes mesmo que ele se virasse já não estava mais lá.
Ficava com tanta raiva. Chorava. Mas nunca fui de desistir, construía outro castelo mais a frente, mais distante da água e novamente ele desmoronava.
Anos depois de não ir mais á praia ,voltei. Claro, que a brincadeira já não tinha mais graça.
Meu passatempo favorito agora é caminhar na praia. Deixo tudo de lado e simplesmente percorro toda a extensão de areia no fim da tarde, sozinha. É quase como um ritual para alma, o vento batendo, pássaros voando e eu ali.
Quando cheguei no fim da caminhada, sentei em uma pedra para descansar um pouco e observei um castelo construído.
Pensei em tudo que estava passando, pensei no meu pai tentando ver meu castelo destruído e as memórias me fizeram entender tudo o que acontecera até ali. 
Não ia ser somente aquele castelo que dediquei todo meu dia na praia, que ia desmoronar e precisaria ser reconstruído.
Não ia ser só a felicidade de conclusão que ia passar tão rápido que não daria tempo de virar para olhar.
Sempre irá vir uma onda para derrubar aquilo tudo para me deixar chateada.
Eu sempre irei puxar meu castelo mais para areia, mas a onda sempre irá alcançá-la
Mas também me lembrei de como a cada castelo derrubado, construía um melhor, mais forte e como o sorriso dos meus pais me confortava. Soube na hora que não importava quantos castelos fossem derrubados, eu sempre construiria melhores.
Ao voltar, com mais coisas na cabeça do que fui, percebi uma última coisa.
Não sou só eu que procurava caminhar pela praia pensando nos meus problemas, não fui só eu que construí castelos que foram derrubados e nem foi a onda a culpada pela minha frustração.
Tantas pegadas na areia ao meu lado, foram de tantos que tiveram seus castelos derrubados. Mas sempre haverá outra pegada ao meu lado, sempre haverá a caminhada na praia e sempre haverá o castelo sendo construído e um dia ele ficará lá, tão consistente quanto o que estava na frente daquela pedra em que coincidentemente sentei.

Tempo, tempo

Maldito tempo que insiste em passar
e leva junto o meu passado
acabando com o presente sem nem mesmo pestanejar

Te desejo todo mal tempo maléfico
É facil fazer com os outros o que não se passará com você
mas só para se saber
ainda irei te enganar

Crueldade com o bem
Bondade com o mal
não entendo toda essa lógica
não entendo como isso é visto como normal

Estava tudo bem, tudo feliz
O tempo passa
Eu pisco os olhos e quando acho que sabia de tudo
me torno de novo uma aprendiz

O objetivo da vida, é ser feliz
o que se consegue da vida é não alcançar nada que quis.
Decepcionar, massacrar, por que tanta maldade em um único ser?
Isso não pode, não podia e não vai acontecer
Entenda isso, torne imperativo em sua vida e me deixe em paz.

Por último faça um favor,
concerte o que fez
e não faça mais, não agora
não me pregue peças
não me entristeça
não me mate por dentro,
antes de eu estar preparada para morrer

Então pare de passar, de agir, deixe-me .